O empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, alvo da Operação Sem Desconto, negou envolvimento no esquema de descontos ilegais em benefícios do INSS, mas decidiu permanecer em silêncio durante a maior parte do depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, realizado na segunda-feira (6), em Brasília.
Cavalcanti respondeu apenas às perguntas iniciais do relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL). Em seguida, seu advogado, Thiago Machado, informou que ele não responderia a novas questões, amparado por um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, que lhe garante o direito de não produzir provas contra si mesmo.
Negativas e patrimônio
O empresário, ex-sócio do advogado Nelson Willians, afirmou não ter sido “laranja” nem beneficiário do esquema e disse desconhecer atividades ilícitas atribuídas a Willians e a Maurício Camisotti, apontados como operadores do desvio.
Cavalcanti teve mais de 20 veículos de luxo apreendidos pela Polícia Federal (PF), entre eles uma Ferrari avaliada em R$ 4,5 milhões, além de motos, relógios caros e vinhos de uma adega avaliada em R$ 7 milhões. Ele afirmou que os bens foram adquiridos legalmente, alguns ainda financiados, e que são de propriedade de sua empresa.
O relator questionou a rápida evolução patrimonial do empresário, que em 2017 trabalhava na Assembleia Legislativa de São Paulo com salário de pouco mais de R$ 5 mil. “Em 2017 eu não tinha nem R$ 100 mil. Meu patrimônio está declarado no Imposto de Renda, mas não quero detalhar aqui”, respondeu Cavalcanti.
Suspeitas da comissão
Para o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), os indícios apontam que Cavalcanti não tem como justificar o patrimônio acumulado.
“É impossível alguém sair de um salário de R$ 5 mil para, em poucos anos, ter carros de luxo e uma adega milionária. A movimentação financeira mostra que ele é parte do esquema”, afirmou.
Viana classificou o grupo investigado como uma “máfia” que desviou recursos da Previdência, contou com apoio de políticos e servidores e manteve uma vida de luxo graças ao esquema.
Investigações
A CPMI aguarda decisão do ministro do STF André Mendonça sobre pedido para que Maurício Camisotti seja obrigado a depor. Atualmente, ele tem o direito de permanecer em silêncio.
Entre as entidades investigadas está a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (AMBEC), que teria ligação com Camisotti. As contribuições da associação saltaram de R$ 135 mil em 2021 para R$ 14,9 milhões em 2022 e chegaram a R$ 91 milhões em 2023, levantando suspeitas sobre a origem e o destino desses recursos. (Agência Brasil)