O piloto Henrique Traugott Binder Galvão afirmou nesta terça-feira (28) à CPMI do INSS que duas aeronaves utilizadas pela Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer) pertenciam a Vinícius Ramos da Cruz, cunhado do presidente da entidade, Carlos Roberto Ferreira Lopes.
O relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), considerou suspeitas as transações das aeronaves, que hoje estão registradas em nome do secretário da Conafer, Silas da Costa Vaz.
Aviões e pagamentos
Henrique Galvão contou ter realizado cerca de 100 horas de voo para a Conafer, sendo contratado e remunerado pela própria entidade, apontada pela Polícia Federal como uma das principais beneficiadas por descontos ilegais em benefícios previdenciários entre 2019 e 2024.
Segundo o piloto, os custos de combustível e manutenção eram pagos por Leandro Almeida, amigo que o indicou para o trabalho. Em ligação feita durante a sessão, Almeida confirmou ter pilotado para a Conafer em 2024 e que os pagamentos eram feitos via transferência bancária da confederação.
Suspeita de incompatibilidade financeira
De acordo com o relator, o atual dono dos aviões, Silas Vaz, não teria renda suficiente para manter as aeronaves, avaliadas em R$ 1,8 milhão (Beechcraft Baron 58) e R$ 550 mil (Cessna 172RG). A manutenção mensal poderia chegar a R$ 40 mil.
Gaspar destacou que Silas mora com a família em uma casa simples no Recanto das Emas (DF) e que os aviões teriam sido comprados pela Conafer do Instituto Terra e Trabalho (ITT), presidido por Vinícius Ramos, cunhado do presidente da confederação.
Questionamentos e investigações
O relator também questionou sobre registros de passageiros, mas o piloto afirmou que o diário de bordo continha apenas dados técnicos dos voos. Os documentos das aeronaves estariam no Aeroporto Botelho, em Brasília.
Galvão disse ainda que já trabalhou como piloto no gabinete do deputado Marcelo Álvaro (PL-MG) e que deixou de prestar serviços à Conafer por falta de pagamento.
Envolvimento de parlamentar
O deputado Rogério Correia (PT-MG) levantou suspeitas sobre as negociações, apontando que o deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) teria vendido uma das aeronaves, o Cessna 172RG, por R$ 400 mil em 2023 ao ITT, que depois a revendeu por R$ 700 mil.
Correia também mencionou informações da Polícia Federal que indicam que Pettersen destinou R$ 2,5 milhões em emendas parlamentares ao ITT, instituição ligada à Conafer.
O deputado Marcel Van Hatten (Novo-RS) afirmou que há indícios de ligação entre os recursos das emendas e a compra das aeronaves, e cobrou explicações do parlamentar citado.
Trechos e rotas dos voos
Henrique Galvão contou que suas principais rotas eram entre Governador Valadares (MG), Ribeirão Preto (SP) e Brasília (DF). Ele também disse que o Aeroporto Botelho não possui controle rigoroso de passageiros ou bagagens, o que levantou dúvidas entre os parlamentares sobre possíveis transportes irregulares.
O vice-presidente da CPMI, deputado Duarte Jr. (PSB-MA), alertou que, caso se confirmem irregularidades nos transportes realizados, o piloto poderá ser responsabilizado criminalmente por possíveis crimes de lavagem de dinheiro, associação criminosa ou uso indevido de cargo público.
A sessão foi suspensa e seguirá com o depoimento do empresário Domingos Sávio de Castro, apontado como tendo relações financeiras com entidades ligadas à Conafer. (Agência Senado)